Lembro de ser pequena, ter aí uns cinco anos, e a minha mãe inscreveu-me na ginástica numa colectividade na vila onde cresci.
Estava excitada e amedrontada ao mesmo tempo. Parecia que todos já se conheciam, menos eu. Acanhada, lá participei nas aulas. Gostava mas não tinha muito jeito, como a professora na altura me dizia. Se fosse hoje, havia logo um comité de pais a pedir explicações. Naquela altura, a pedagogia era outra!
Colectividade que é colectividade, organiza saraus de final de época. Lá vou eu, maillot novo com as cores do clube e totós com fitas brancas a condizer. Sabem para quê? Para ficar sentada durante toda a apresentação da minha turma. “Não tens jeito”, foi a justificação dada. Desses tempos, não guardo boas recordações. Nem me lembro do rosto nem do nome da dita professora.
Mas nem tudo foi assim. Tive uma infância boa e feliz, onde o aborrecimento dava azo à minha criatividade.
Uma das brincadeiras que tinha com frequência era ser dona de um estabelecimento. Um dia era dona de uma mercearia, onde carregava os enlatados da despensa lá de casa para a marquise e escrevia o preço a caneta na casca das laranjas. Noutro dia, tinha um atelier de costura onde as bonecas eram as minhas clientes. Passava horas a brincar.
Mal sabia eu que, uns bons anos à frente, ia criar o meu próprio negócio!
Enquanto adolescente, era uma vouyer! Observava as pessoas, os pássaros, o rio, o nada do outro lado da janela da cozinha. Desde logo, tive em mim a delicadeza de tratar os outros como se esse trato fosse para comigo. Mas isto não fez de mim uma santa, acreditem! Era uma desenquadrada enquadrada.
Na escola, o percurso foi o esperado. Depois veio o trabalho e quase sempre era empurrada para tarefas em que tivesse que comunicar com pessoas. Onde estive mais tempo foi em recursos humanos.
Um dia, já adulta e prestes a ser mãe pela primeira vez, no balneário do ginásio comentei com uma colega que estava um pouco saturada do lufa-lufa dos body pump’s, steps e afins, e ela disse-me que o marido dela dessa altura, fazia Yôga. Não, não franzi o sobrolho nem teci nenhum comentário do género: “isso não é para mim”. Pelo contrário, era mesmo para mim. Uma coisa que nunca tinha feito na vida. Estava na hora de sair da minha zona de conforto. E assim foi. Primeira aula, sai de lá parecia que tinha levado uma carga de porrada e olhem que eu fazia ginásio à séria!
O Yôga entranhou-se tanto em mim que larguei tudo para ser professora a tempo inteiro. E com isso, materializei um sonho: o Yôga Spot. Esta deve ter sido a minha primeira mentalização de sucesso no propósito!
Comecei o meu percurso imersivo nesta filosofia prática com um professor, ao qual reconheço o seu valor mas não me identifiquei. Mudei. Estive durante alguns anos dentro do Método DeRose, onde aprendi muito. Em paralelo, fui aprendendo com outros professores, outras especializações, outros conhecimentos, até ganhar bagagem, coragem, ousadia e trilhar o meu próprio percurso.
Procurei a minha própria tribo, e essa tribo são as pessoas que me fazem crescer e evoluir. Em todos os sentidos. Nem sempre foi fácil. Crescer, quase nunca é fácil. Mas é tão inspirador e gratificante, que vale a pena todo o sacrifício. Sim, ter um pequeno negócio, enfrentar a família, criar uma filha no meio de tudo isto, nem sempre foram rosas e tive momentos muito maus, garanto-vos. Mas esta minha vontade, foi este meu acreditar que me trouxe até aqui, 17 anos depois da minha grande decisão. Aqui parece que a escola esta a abrir agora, eu colocava algo do género …”foi este meu acreditar que me impulsionou para a abertura do Yôga Spot e que com a ajuda de todos vocês já vamos celebrar 17 aninhos de muito sucesso.
Queria agradecer desde já a todos os alunos, e já são mais de uma centena que passaram pelo Yôga Spot, a vossa dedicação e os vosso sorrisos, acreditem que também aprendo muito com todos vocês…